sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Capítulo 08 - Vida Real

Finalmente minha mãe parecia ter aceitado o grande “fato”. Suas lagrimas em fim cessaram.
Porem a cada minuto que se passava podia sentir o clima ficar mais tenso, todos sem exceção estavam com medo... A forma como eu provavelmente iria morrer me agoniava.
— a pilha da lanterna vai acabar logo! – indagou meu pai.
—se assim como nos filmes o ferro funciona contra a assombração, talvez a nossa única saída seja queimar os ossos da “menina” – disse Bruna se levantando inesperadamente. – Ela... Morreu dentro da parede, os ossos só podem estar lá.
—Bruna... – disse minha mãe tentando a fazer parar.
—A parede é fina, com essas barras podemos quebrá-la pai!
—filha... Para isso vamos ter que voltar a casa, e isso é mais perigoso do que ficar aqui.
—temos como nos defender! – Disse me colocando ao lado de Bruna – se ficarmos aqui sem fazer nada ai sim vamos todos morrer.
—você fala de um jeito que parece ser tão fácil... Eu estou com medo – disse enquanto colocava a luz da lanterna em seu rosto, deixando assim transparecer o suor de nervosismo em sua testa.
—Se a menina não aparecer e nos matar vamos morrer de qualquer jeito, se o senhor não sabe todos nós precisamos de comida e água, sem isso não podemos viver.
—é bom você ficar quieto – indagou fechando sua mão.
—você acha que eu não estou com medo?
—eu disse para você ficar quieto – Gritou vindo em minha direção.
—Para com isso!
—ate você Elisabeth? – disse meu pai surpreso ao ver minha mãe se levantar para interferir
—Se esse for o único jeito de salvar o que restou da minha família, mesmo correndo riscos eu digo que sim, ate eu Denny.
—você não tem condição de falar nada...
—ta, então eu não vou falar, eu vou fazer, me de essas barras que nós vamos sem você.
—o que?
—é isso mesmo
—espera... Isso não. – disse olhando para minha mãe – Aonde vamos começar a quebrar? – Perguntou em fim concordando com o “plano”.
—cozinha – indaguei quase em um sussurro
—por causa do cheiro – concluiu Bruna
—tomem – disse meu pai entregando os três espetos para cada um de nós, enquanto se mantinha com a barra de ferro.
—na lavanderia!
—o que disse Elisabeth?
—na lavanderia há algumas ferramentas do Jhom , ele... Esqueceu lá no dia que me ajudou a instalar as maquinas. Tenho certeza que na caixa de ferramentas tem uma marreta, não vai servir para nos defendermos, mas vai ser bem mais útil do que os ferros para quebrar a parede.
—ótimo... Estão prontos? – perguntou iluminando a maçaneta da porta.
—sim – dissemos juntos.
Enquanto saia da granja o vento frio que ali soprava batia forte contra meu rosto, quase me fazendo esquecer das cenas horríveis que voltaria a ver.
Ao abrir a porta constatamos que assim como o porão a casa também estava sem luz. Agora todos torciam para as pilhas da lanterna não acabar.
—todo cuidado é pouco, lembrem-se – disse meu pai tentando não iluminar os “pontos críticos” que ali estavam, porem ao passar pela sala podíamos sentir o sangue de Baster grudar em nossos sapatos.
—ai – disse Bruna agoniada
—fica calma – exclamei pegando em sua mão – tudo vai dar certo
—chegamos na cozinha – informou meu pai – agora vamos ate a porta da lavanderia e cuidado com o...Corpo do padre.
Pude escutar alguns soluções de choro enquanto tentava me manter firme e calmo na “quase escuridão” total que deixaria qualquer um com os nervos a flor da pele.
— fiquem aqui – disse se referindo a minha mãe e a Bruna – Erick, segura a lanterna enquanto eu abro a porta.
—certo.
Ao vê-lo abrir a porta me senti aliviado por nenhuma surpresa inesperada ter acontecido.
—peguei – disse fechando a porta com a caixa de ferramentas em mãos – ilumina aqui.
—ok
—achei! – exclamou pegando uma marreta
Ao terminar a frase a luz da casa voltou, nos obrigando a olhar para tudo que podíamos ignorar no escuro.
—eu não agüento isso – disse minha mãe encarando o corpo do padre.
—não olha! – indagou Bruna a virando para o outro lado
—temos que nos controlar – eu disse olhando para a lanterna que segurava – acaba logo com isso pai.
Com um olhar cansado ele ergueu a marreta e a bateu contra a parede, fazendo a mesma ceder em um grande buraco, o que fez com que um forte cheiro de carniça invadisse a cozinha.
—passa a lanterna filho
—toma! – disse a entregando. Em seguida peguei a barra de ferro que ele havia deixado no chão.
—ah meus Deus!
—o que foi? – perguntei
—responde Denny – exclamou minha mãe.
—Melany e Emmy
—não... Não pode – disse me aproximando da parede quebrada
Ao olhar encontrei os dois corpos já em adiantado estado de decomposição – como elas foram parar ai!? – exclamei enxugando algumas lagrimas.
—calma filho!
—como você quer que eu fique calmo? Eu tentei ficar, tentei deixar todos calmos... Mais a realidade é que a gente vai morrer!
—cuidado Denny, a “menina”! – gritou minha mãe
Porem o aviso veio tarde. Quando nos demos conta do perigo a menina já o havia puxado para dentro do buraco na parede.
—pai! – gritei desesperado enquanto me seguravam para que eu não “entrasse na parede” também.
Enquanto chorávamos horrorizados podíamos escutar os gritos de dor que meu “pobre” pai dava enquanto a menina o arrastava em meio à parede.
Porem logo o barulho cessou.
—parou na sala – eu disse guardando a lanterna que ele havia deixado cair ao ser puxado. Entreguei um dos ferros que segurava para Bruna a deixando assim com dois. Em seguida corri ate a sala e me deparei com o velho armário de madeira escorrendo sangue por entre as portas. Imediatamente tentei o abrir, mas minha tentativa foi frustrada, ele estava trancado.
—dês de que nos mudamos esse armário está trancado, seu pai disse que nem a Melany tinha a chave. – indagou minha mãe ainda em lagrimas.
—ah... Agora eu sei como “elas” foram parar na parede... Eu... Vou tirar meu pai daí. – Fui ate a cozinha e peguei a marreta. Tomado por fúria marchei de novo ate a sala. Encarei o armário e em um misto de raiva e força consegui quebrar a fechadura do mesmo. Lá estava meu pai, dentro do que parecia um quarto do “pânico”, que dava acesso a todos os lugares da casa pela parede.

—Erick... - disse ele quase sem voz, mas foi o bastante para todos nós nos reunirmos ao seu lado puxando-o com cuidado para fora do “armário”. - me desculpem, por favor... Elisabeth...
—Denny, não, você não pode me deixar, não pode deixar nossos filhos.
—paizinho - indagou Bruna segurando sua mão
—eu amo vocês... – disse em fim fechando seus olhos para sempre.
—não, não! – exclamei agarrando seu corpo sem me importar com o sangue que agora sujava minha roupa. Bruna fez o mesmo transbordando em lagrimas.
—Meu Deus – disse minha mãe olhando em direção ao “armário”. Já não era mais surpresa, lá estava à menina a nos observar; notando nossos olhares estampou em sua face um sorriso diabólico. Imediatamente as portas do armário atrás dela começaram a abrir e fechar mostrando assim sua força.
Porem isso não era o suficiente, ela queria mais. Ergueu uma de suas mãos e a fechou rapidamente fazendo com que o corpo do meu pai fosse arrastado ate ela.
—não! – sussurramos.
A “menina” vendo o corpo a sua frente deixou suas grandes unhas tocarem seu tórax. Em seguida voltou a nos encarar, como se estivesse em busca de mais sofrimento rasgou o peito do meu pai como se o mesmo fosse apenas uma simples folha de papel. Após olhar o sangue escorrer em abundancia “ela” arrancou o coração de seu peito, o acomodou em suas mãos e começou a caminhar em nossa direção...

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Participação especial de Daanny *.*

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